Pois é Raul,não é que tu se foi mesmo,cara.
Ainda lembro a ultima conversa que tivemos,discutindo Dom Quixote,tu me falou quando tomou um porre em La Mancha e se irritou con Sancho Pancha.
Me lembro também daquele almoço na cidade das Estrelas,mais precisamente no bar do Dr Pacheco,quando pediu um cerebro vivo a vinagrete e levou uma garrafa de bebida inrrustida porque Angela não podia ver.Não comemos nada.Tu bateu uma xara e eu quiz outra também.
É Raul me lembro muito bem de sua partida,era inverno de 89.Foi pela pista do aterro com seu corcel 73 até a estação com um sapato em cada pé,uma espada e a guitarra na mão,pegou o trem 103 as 7:00hs,reclamou de um gosto azedo na boca,evitou um aperto de mão e me disse tão calado:
"Quero ir meu amor me espera;
Quero ir pela primavera;
Quero,quero,quero ir."
E partiu!
Vi em seus olhos verdes que piscavam no escuro do céu,o verdadeiro sentido da vida.
Fazendo simplesmente tudo o que queria.
Viajar sem passaporte por esse planeta que é seu que é nosso.
Nunca mais lhe vi.
Essa manhã quando acordei,olhei os livros na estante,tomei meu Quilindrox,meu Disconneu,olhei para o par de coxas do meu lado;
Naquele momento entendi o quão real foi o dia em que a terra parou...